Conheci Seu Luís.
Conta histórias com o que encontra no chão.

Já lavou muito morto. Gosta de ajudar nessa hora. Gente morta não presta. Fede. Vivo já é podre. Bebeu cachaça na cabeça do morto. Sentiu por mais de mês. Cabeça de homem é toda fechada. Cabeça de mulher tem um lasco no meio, não dá para beber. Mulher vaza. Velório daqui tem cachaça, comida farta e futricagem dos mais novos. É preciso compensar a perda. Risada e choro cuspido quando ninguém espera. Para dar banho bota o morto em pé. Durinho. Banho em mulher desassossega mais. O mar já engoliu um que ninguém mais achou. Foi arraia. Outro ele pescou. Ninguém queria, mas ele trouxe. Inchado de morto. Difícil carregar. Mas trouxe. Na cova antes era só terra, sem casa de morto. Cavava, amarrava uma corda de um lado e de outro depois descia.

Haja mão. Haja chão.

Morto que quase não viveu é anjo que chora de sete em sete. Dias, meses, anos, e lá vão sete. Sempre tem quem escute.
Sinto você morrendo. Amanhã beberei e dançarei de sete em sete. Sempre tem quem escute.

A tristeza me umedece a alma sem ter nem porque. Deve ser o lasco do meio. É-meio difícil ter lasco.

Durma bem,
Borboleta.

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