Hoje tranquei meus versos dentro de uma botija, enterrei no morro de acolá e soprei toda a terra do mundo.

Fé é esse mistério de saber antes de ser. Mora dentro das histórias, das estátuas, dos santos e guias. Mora onde a razão é apenas visita.


Depois da roda
A igreja de Caetanos de Cima foi construída pelos próprios moradores. É um espaço sagrado. O povo mentiu dentro da igreja. Mentiras largas de sorriso. Se todas as mentiras fossem assim, o mundo seria mais largo de sorriso. Até Nossa Senhora sorriu, mentindo que não podia. Mas abençoou. Brincar sempre pode. Brincar é sagrado.

Xeru,
Borboleta

Ontem fui na realidade. Depois dormi o dia inteiro me procurando.

Um olho aqui outro nas conversas de Letícia, Sr. Leão.


Letícia é uma menina brinquedo.
Descobriu o próprio nome. No meio de tanta letra, o “L” é dela. O mundo não será o mesmo.

Hoje foi o dia da roda do Laboratório da manhã. A roda do Seu Chico Quirino. Seu Chico brilhou de contar macaco, raposa, rolinha esperta e onça que levou surra. Chamou Dona Tereza, que aceitou o desafio e brincou de calanguear. A roda ficou grande. O mundo não será o mesmo.

Dona Tereza não deixou Amanda ter medo de entrar na roda. Por quê? Amanda também é da roda e tem que se pertencer. Eu ainda disse de alguém ajudar, mas Dona Tereza não deixou. Dona Tereza trocou com Amanda e falou o verso. Feio ou bonito, é da roda e pronto. Depois Amanda entrou. Foi ser. Como sua avó mandou.

Seu Chico e Dona Tereza de onde vieram? Letícia e Amanda para onde vão? O entre é largo, colorido e ondulado. Feio ou bonito, é da roda e pronto.

No restinho de sol eu, Ieda e Letícia pescamos pedras. As pedras possuem identidades. Umas querem cor para rimar com suas formas, outras querem juntas para mostrar suas cor e desenho já rimado. Umas nascem no morros e caminham para o mar, outras nascem dos ocos do mar e escamam para a terra. Cada pedra sonha destino. As pedras querem ser.

O chão é outro universo que o olho arruma ou tropeça.

Olha o presente que ganhei:


Amanda me engordou a alma!

Combinei comigo de pintar nesse chão. Mostrar os poemas (in)visíveis daqui.


 Quero envergar o olho de Ieda para os cantinhos de pintura poema daqui. Já existe. Basta desenferrujar. Ieda também.

Valneide me entregou a letra que será cantarolada pela Banda Brilho do Mar. Com tanta estrela no mar daqui, não tem necessidade de procurar brilho no repetido dos outros. Basta apenas que as estrelas se constelem entre a banda de tradição e a banda de novidade. Bandas da lua. 

Eu laralareio em qualquer lua. Sou do sereno.

Boa noite,
Borboleta.


Traquitano Sr. Leão,

Hoje apresentei o Manuelez à roda do Laboratório da noite. Houve dois silêncios: o primeiro vazio bocejante e o segundo cheio fuxicante. Antes brincamos de som, corpo, palavra. A roda foi desenfarelando o corpo para o brincar.

Brincar é revolução. É refazer o mundo. É afronta também. Brincar é perigoso. Porque é gostoso. É riso e riso é poder. Uma risada bem dada pode desarmar o mais perigoso dos exércitos. Acredita?

Brincar é barato. Só precisa virar o olho, o ouvido, a palavra. Pegar de outro jeito, na medida do SE. SE fosse uma boca com mais de 5 palmos? SE pudesse passar 3 horas dormindo dentro do mar? SE cachorro falasse? O SE muda o mundo.

Mas é fácil criar musgo para a brincadeira quando sentamos na idade adulta. Nisso tenho orgulho de você. Nunca senta em idade nenhuma! Aqui e acolá brinca de esconder. Seu tempo de dentro tem rodinhas.

Mas SE cansar, SE quiser colo, pode vir que faço uma palavra bem algodoada para te abraçar.

Xeru,
Borboleta.