Meu amado Sr. Leão,
Essa terra demais combina com seu olho marisquento.

Hoje acordei antes do rabixo do sol, botei biquíni e saí pelo caminho do nascente. Vi o céu desaquarelar até subir o dia. É essa selva aqui que você merece. Aqui a água do mar é sempre morninha.

Depois da primeira merenda Edineide foi nos levar pela trilha até a Lagoa Grande. Edineide é uma menina pote.


Busquei.

A trilha começa pelas moitas, entra pelas dunas e passa pela Lagoa de Dona Mariquinha.  Nesse ponto a gente descansa o restinho de saudade que a Lagoa deixou antes de voltar para o mar. Depois sobe o Morro da Mala, lê o “m” desenhado de areia e tenta enxergar a luz que indica onde está o tesouro que o morro guarda. Daí entra pela estrada que passa na frente do Ponto de Cultura “Abrindo Velas, Pescando Culturas” e pela Escola do portão aberto.

É isso mesmo, Sr. Leão, aqui a Escola tem portão aberto.

Bebemos água e seguimos até achar o caminho que fica do lado da casa do Zé Nel. Aquele moço sisudo da reunião da quarta feira que fincou opinião para as crianças participarem, e que, depois descobri, também é cordelista. Pois esse caminho é cheio de murici, redondinha de gostosa.

O próximo canto era para ser a beirada do cemitério, mas inventei de irmos por dentro. Edineide esquisitou, mas aceitou, era dia.

Contou da juventude do cemitério, mostrou o túmulo da bisa, Dona Josefa, uma rezadeira respeitada, plantada de sabedoria. Mostrou ainda o primeiro pequeno túmulo do lugar, cavado em 2003.


Antes ninguém queria, era tudo areia. Quando a Vera guardou sua filhinha nesse canto, o povo gostou de guardar também e ficou sendo. Mas só guarda de quando em quando porque aqui o viver é esticado.

Aqui, meu querido Sr. Leão, você pode passear por suas idades até o dia de ir para onde todos vamos. E até para esse dia aqui tem canto.

Mais um punhado de dunas e chegamos na Lagoa Grande. Fiquei pequena lá. Bananeira, quem fica mais tempo debaixo d’água, quem nada mais, corrida. Risada risada até avistar o carro de boi, nossa carona para casa.

Xeru,
Borboleta.

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