Em dias como hoje, a Praia de Caetano acorda sincera. A beira d’água combina com o andar da gente de uma maneira que passo e olho pousam no lugar certo, sem machucar viva alma de siri, viva alma de sapo, viva alma de pedra nenhuma. Em dias como hoje, o mar acorda com vontade de mostrar para os pés do mundo que tudo tem seu lugar, na enchente e na vazante.

Mesmo dia, depois de ir caçar siri.

Olhe, Sr. Leão, eu quase te falo do medo de que o povo das selvas cinzas desasegrede o tanto que o mar de Caetano é sincero. Pano de sinceridade é muito fácil de manchar. Mas voltei lá na beirada da praia com Nel, pra catar um siri amarelo que se mostrou pra mim na hora do passeio. Fui me gabando de saber onde ele estava. Fui pronta pra catá-lo de troféu. Fui e ele já não estava mais lá. Eu também não ficaria. O mar daqui é sincero, mas não é besta.

Quando vier, Sr. Leão, venha com respeito e reverência, porque o mar aqui é outra terra.

Outra coisa que quero te dizer,

A Lagoa da Dona Mariquinha destruiu o que estivesse na frente pra reencontrar o mar,
Os coqueiros murcham se ficam longe das mãos que os plantaram,
As dunas se desmancham quando levam suas botijas de ouro,


O jeito da minha saudade é inventar você.

Ontem passamos o filme para a comunidade, na igreja. As crianças foram as primeiras a chegar. Senhoras e adultos vieram pingando. Gargalharam com “Os Narradores de Javé”. Depois me apresentei e contei sobre o projeto desde o começo. Olhos, silêncios, fuxicos e propostas se misturaram até chegarmos a um acordo. Duas turmas de 15 pessoas entre crianças, adolescentes, adultos e idosos. 22 pessoas já estão inscritas. As outras 8 tem até quarta feira que vêm para chamar o querer.

Teve um instante que se maliciou das crianças não participarem. Mesmo querendo. Nessa hora vi a leoa de Valneide subir pra pele, pro olho, andar firme pelo caminho das palavras pra defender a cria da escola que ela planta todos os dias. Vi também o homem sisudo e atento da reunião de domingo fincar sua opinião como quem enterra uma bandeira na lua: As crianças participam sim. E como participam!

Você disse que diversidade é conflito, pois liberdade também é. Esse se fazer no conflito do caminho das palavras engorda a qualidade de existência do povo daqui.

Xeru,
Sua Borboleta.

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